Vivemos numa época de discursos abundantes e ideias escassas. Todo mundo quer opinar sobre tudo, mas poucos parecem capazes de nomear o que sentem, pensam ou rejeitam. No centro desse empobrecimento silencioso está um fenômeno tão óbvio quanto ignorado: quanto menos se lê, menos se entende, menos se fala — e menos se pensa.
O vocabulário é o espelho da alma pensante
Pode soar antiquado, mas não conheço meio mais eficaz de ampliar o vocabulário do que a boa e velha leitura. Palavras não caem do céu nem nascem no WhatsApp: são adquiridas em contato direto com textos, histórias, argumentos, descrições, contextos. O leitor frequente expande, sem perceber, o leque de expressões, aprende os matizes do idioma, descobre ironias, metáforas, argumentos sólidos e até aquele humor sutil que passa longe das redes sociais.
O resultado? Fala-se melhor. Mas não só: pensa-se melhor. O vocabulário não é apenas um acúmulo de palavras, mas um arsenal de conceitos. Quem só conhece meia dúzia de palavras vive num mundo apertado, incapaz de perceber ou expressar as diferenças entre o medo e a angústia, a tristeza e o tédio, a dúvida e a perplexidade.
A miséria da linguagem empobrece o pensamento
É sintomático que, quanto mais se abandonam os livros, mais rasteira fica a discussão pública. Palavras repetidas, chavões reciclados, um mar de “achismos” sem substância. Não por acaso, os grandes pensadores sempre foram grandes leitores. A complexidade das ideias exige precisão — e precisão só se atinge quando se tem à mão o vocabulário certo.
A leitura frequente não só apresenta novas palavras, mas oferece contexto: ensina a diferença entre um conceito e outro, mostra como um termo pode mudar de sentido dependendo da frase, educa o ouvido para a sutileza do texto bem escrito. É aí que se aprende, de verdade, a debater, argumentar, convencer e, se for preciso, calar o outro com uma palavra justa.
Palavras são poder — e liberdade
Em uma sociedade em que se prefere o barulho do eco à dificuldade do argumento, o vocabulário é uma forma de resistência. Saber nomear as coisas com exatidão é o primeiro passo para não ser enganado por discursos vazios, slogans de ocasião e manipulações grosseiras. Quem lê, além de falar melhor, tem mais instrumentos para pensar com clareza, distinguir o verdadeiro do falso, o profundo do superficial.
Essa é, talvez, a lição mais subversiva da leitura: cada palavra conquistada é uma brecha de lucidez em meio ao caos.
O convite: leia mais, pense mais, fale melhor
Nada mais urgente, em tempos de superficialidade, do que investir na própria autonomia intelectual. E isso começa, quase sempre, com um livro aberto, um tempo dedicado à leitura e a curiosidade de ir além do senso comum. Não se trata apenas de enriquecer o vocabulário: trata-se de ampliar os horizontes do pensamento e, de quebra, ganhar aquela segurança na hora de expressar o que importa.
No fim das contas, quem lê mais, fala melhor. Quem fala melhor, pensa melhor. E quem pensa melhor, não se contenta com pouco — nem aceita ser manipulado facilmente.
					
							