O que a ciência já descobriu sobre ler para bebês

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Entenda como a leitura precoce estimula o desenvolvimento, fortalece vínculos e enriquece o vocabulário das crianças — Crédito: Freepik

Me permita conversar um pouco com você, caro leitor. Se você é pai, mãe, avô, tia, ou mesmo alguém que cuida de uma criança pequena, já se perguntou se vale a pena ler para um bebê? Às vezes a gente sente até um certo constrangimento: o bebê está ali, quietinho, talvez sem nem entender as palavras, e a gente lendo… Será que faz mesmo diferença?

Pois lhe digo — não só faz diferença, como faz muita! Não é só o que dizem os livros de pedagogia ou as pesquisas científicas, mas aquilo que a gente percebe no convívio de casa, na lembrança de infância, no que vi acontecer ao longo dos anos entre gerações.

Ler no colo: o começo de tudo

Quantas vezes, quando criança, você não se recorda da voz da mãe, da avó, lendo ou contando uma história, mesmo que fosse uma daquelas inventadas na hora? Eu, pelo menos, me lembro bem de ouvir histórias antigas, repetidas, aquelas que a gente pede de novo porque nunca cansa. Pois veja: cada palavra dita, cada pausa, cada jeito de falar ia ficando gravado, antes mesmo que eu soubesse o que tudo queria dizer.

E é assim com os bebês de hoje. Quando lemos para um bebê, não estamos apenas “ensinando palavras”. Estamos embalando com a nossa voz, com o ritmo e o calor do afeto. A ciência só veio confirmar o que a experiência já ensinava: o bebê aprende com o som, com a melodia da fala, com o carinho do gesto. Como escreveu Rubem Alves, “palavras são casas onde a gente mora”. Cada leitura é, no fundo, construir morada boa na memória da criança.

A força do vínculo

Eu gosto de pensar na cena: um adulto com o bebê no colo, um livro aberto, e a história sendo contada. Esse é o tipo de momento que marca uma infância inteira, e disso tenho certeza porque ouvi isso de muita gente. A criança cresce sabendo que tem alguém para si, um tempo só dela. O filósofo Gaston Bachelard falava desse “bálsamo das palavras”, esse aconchego que fica, mesmo que os anos passem.

Mais palavras, mais mundos

Não faltam pesquisas mostrando que o vocabulário das crianças cresce mais quando ouvem livros em casa, desde cedo. A neurocientista Maryanne Wolf fala muito sobre isso — o cérebro vai “se adestrando” na linguagem, como o músico que treina o ouvido. Mas veja, não é só pelo futuro da escola, não! Ouvir histórias desenvolve imaginação, cria laços, exercita a memória. Como dizia Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.

Simples, todo dia

E não precisa de ritual complicado, não. Pode ser aquele livrinho velho, uma história curta antes da soneca ou até enquanto espera o feijão ficar pronto. O importante é o gesto, a constância, a alegria do tempo junto. São essas miudezas — que parecem pouco — que, um dia, a criança guarda como tesouro.

Sabe, cada vez que um adulto lê para um bebê, está apostando no futuro dele. Está mostrando, sem pressa, que ele é importante, que existe tempo para o afeto, para o silêncio, para as histórias. Eu não conheço escola melhor para a vida.

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Professora de história e jornalista. Fala como uma professora que não perdeu o gosto de ensinar olhando nos olhos. Escreve como quem puxa uma cadeira, abre um livro e diz: “sente-se, vamos pensar juntos.” Suas palavras têm o tom sereno de quem aprendeu mais com a vida do que com os manuais, e a firmeza de quem sabe que sem esforço não há entendimento.
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