Os 10 melhores livros de Machado de Assis

Um olhar sobre a alma humana e o Brasil através da pena mais afiada de nossa literatura — com acesso gratuito em PDF

8min de leitura
Descubra os melhores livros de Machado de Assis em domínio público para baixar em PDF gratuito e ler online — Crédito: elfikurten

Machado de Assis é o espelho diante do qual o Brasil não pode fingir. Nos seus livros não há pose, só gente de verdade, tentando acertar e errando do mesmo jeito. Ele não fala alto, mas o que diz fica ecoando por dentro da gente. Ler Machado é se encontrar num daqueles dias em que o silêncio pesa e a alma anda sem pressa. A gente vira a página e se reconhece ali, meio envergonhado, meio comovido. Porque ele entende o que somos, mesmo quando fingimos não entender.

A seguir, não apenas listamos dez de seus melhores livros — todos disponíveis para leitura online gratuita em PDF — mas também revelamos algumas curiosidades que tornam essa leitura um mergulho no coração humano.

1. Dom Casmurro (1899)

É o romance mais debatido da língua portuguesa — e, paradoxalmente, aquele que menos se lê com atenção. Machado construiu em Dom Casmurro não uma história de ciúme, mas uma armadilha moral. A dúvida sobre Capitu é o anzol que prende o leitor; o verdadeiro peixe é o narrador, Bentinho, com sua alma doente. Poucos percebem que o livro é uma crítica à vaidade do homem moderno — aquele que, incapaz de amar, prefere possuir.

Curiosidade: Machado nunca confirma a traição. Ele deixa a suspeita como um espelho para a consciência do leitor. O ciumento se revela, não o traído.

2. Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Um defunto-autor que escreve sem pressa — porque o tempo já não o mede. A maior ironia de Machado está aqui: um morto que entende mais da vida do que os vivos. A estrutura é fragmentada, prefigurando o modernismo, mas a alma é profundamente clássica: o desmascaramento da vaidade humana.

Curiosidade: o capítulo “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver” é uma paródia de dedicatórias românticas — Machado dedica sua obra à decomposição. Nenhum autor brasileiro foi tão sarcástico.

3. Quincas Borba (1891)

Se Brás Cubas zombava dos mortos, Quincas Borba ri dos vivos. O personagem Rubião é o discípulo tolo da filosofia do “Humanitismo”, que resume a loucura do século XIX: “ao vencedor, as batatas”. É a sátira mais mordaz à pseudociência e ao positivismo. Rubião é a caricatura do homem moderno que adora o progresso e perde a alma.

Curiosidade: Quincas Borba morre antes da história principal — mas é ele quem dá nome ao livro. Machado brinca com a própria ideia de protagonismo.

4. Esaú e Jacó (1904)

Um romance sobre gêmeos idênticos e contrários: Pedro e Paulo. Um representa o Império; o outro, a República. Mas Machado mostra que ambos são a mesma coisa: faces de uma mesma mediocridade. No fundo, o autor ridiculariza o “Brasil das ideias”, onde toda mudança política é apenas troca de adjetivos.

Curiosidade: o narrador, o conselheiro Aires, é o mais sábio e mais impotente dos personagens machadianos — observa tudo, mas nada muda.

5. Helena (1876)

Aqui ainda há resquícios do romantismo, mas já se sente o olhar clínico de Machado. Helena é a filha ilegítima que traz à tona os segredos de uma família. O autor transforma o melodrama num estudo sobre a hipocrisia burguesa e o amor disfarçado de caridade.

Curiosidade: Machado escreveu Helena antes de se casar, e há nela um lirismo que nunca mais se repetirá em sua obra. É o último sopro de juventude antes da ironia definitiva.

6. Iaiá Garcia (1878)

Um livro aparentemente leve, mas cheio de tensões silenciosas.
Iaiá é uma das raras personagens femininas machadianas que triunfa pela inteligência e não pela aparência. A trama é um duelo moral — não há vilões, apenas escolhas.

Curiosidade: Iaiá Garcia marca a transição de Machado do romantismo para o realismo. Ele deixa de falar de amores e começa a falar de almas.

7. O Alienista (1882)

A loucura é o tema, mas o alvo é a razão. Dr. Simão Bacamarte funda a Casa Verde para internar os loucos de Itaguaí — e termina internando a cidade inteira. Machado antecipa Foucault e critica a tirania do “cientificismo”. Quando a razão vira ídolo, o homem perde o juízo.

Curiosidade: No fim, Bacamarte decide que ele mesmo é o único louco verdadeiro — e interna-se voluntariamente. Uma parábola sobre o poder e o orgulho intelectual.

8. Papéis Avulsos (1882)

É o laboratório da genialidade de Machado. Cada conto é uma experiência de ironia e filosofia. Em O espelho, um alferes descobre que metade de sua alma está no uniforme; em A cartomante, o destino é menos cruel que a ilusão humana; em Teoria do Medalhão, o autor explica como se tornar um homem medíocre — e ser admirado por isso.

Curiosidade: Machado escreveu esses contos como quem desmonta o cérebro do leitor, peça por peça. Nenhum escritor brasileiro compreendeu tão bem a psicologia do disfarce.

9. Histórias sem Data (1884)

Menos conhecido, este livro reúne contos onde o tempo histórico se dissolve — a crítica à sociedade é universal. Aqui, Machado prova que o moralista não precisa de sermão; basta o espelho da ironia.

Curiosidade: O próprio título é uma sátira: histórias “sem data” porque a tolice humana não muda de século.

10. Memorial de Aires (1908)

O testamento espiritual de Machado. O conselheiro Aires, já idoso, escreve com serenidade, mas também com desencanto. Tudo é passagem: a política, os amores, a própria literatura. É a voz de quem já viu o bastante e aprendeu que a sabedoria, no fim, é silêncio.

Curiosidade: Machado morreu poucos meses depois de publicar o livro. É como se tivesse escrito seu próprio epitáfio — não em mármore, mas em ironia.

Onde ler os livros de Machado de Assis gratuitamente

Todos os títulos citados estão disponíveis para leitura online e download gratuito em PDF no portal oficial do MEC: https://machado.mec.gov.br/obra-completa-lista

As edições são fiéis ao texto original e podem ser lidas em qualquer dispositivo. Um verdadeiro tesouro de domínio público — gratuito, mas inestimável.

Por que ler Machado hoje

Em tempos de slogans e superficialidades, Machado é um exorcismo da ignorância disfarçada de opinião. Ele nos obriga a pensar, rir e, sobretudo, duvidar de nós mesmos. Como dizia Orlando Fedeli, “a ironia é a forma superior da inteligência moral”. E ninguém ironizou o homem moderno com tanta precisão quanto Machado de Assis.

Ler Machado é reencontrar o Brasil que pensamos conhecer — e descobrir que, talvez, nunca o tenhamos lido de verdade.

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Filósofo e articulista. Escreve como quem conversa à mesa, com ironia e franqueza, sobre o que a filosofia perdeu quando deixou de buscar a verdade. Para ele, pensar é resistir à confusão do tempo presente — é manter acesa a chama da lucidez num mundo que já se acostumou à mentira. Em seus textos, fala ao leitor como a um amigo, provocando-o a não ter medo de ver as coisas como realmente são.
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